terça-feira, 30 de junho de 2009

Pina Bausch

Morreu hoje, depois de 5 dias do diagnóstico de um câncer, de maneira tranquila, a coreógrafa e bailarina Pina Bausch que tinha 68 anos.
Não entendo nada de dança. Mas, confesso que quando assisti, pela primeira vez, a um trabalho da artista, fiquei apaixonado. Seu trabalho era uma mistura de dança e teatro com uma leveza e beleza de movimentos que nos deixava paralisados.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Quadrilátero

Texto de Ademar Cardoso de Souza publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

A Bandeira que carrego no peito

A Praça da Bandeira era linda, acredite. Eu passava por lá quase todos os dias da minha infância e juventude. Para nós era a praça da Catedral. Lá ficava a Livraria Católica, a Casa Glória, o Foto Miyasaka, o Diário de Notícias. Do outro lado, a Faculdade de Farmácia e Odontologia e a Gruta Gelada, que vendia refrescos gaseificados, deliciosamente espumantes, feitos na hora.
Cortada ao meio pela Rua Florêncio de Abreu, a parte de baixo da Praça da Bandeira era a mais bonita, mais cheia de árvores e pássaros. Cercada de majestosas palmeiras imperiais – como as que ainda enfeitam a Avenida Jerônimo Gonçalves –, havia uma profusão de bancos para sentar, ler e namorar, sem sujar a roupa. Ninguém sentava no encosto do banco e metia os pés no assento. Quebrar um banco? Nem pensar! Havia respeito e, como garantia do respeito, um guarda. Farda caqui, cassetete de madeira e pouca tolerância com moleque malcriado, cada praça tinha seu guarda pago pelo Município. Os bancos ficavam inteiros, ninguém pisava na grama e ai de quem metesse os pés no assento.
Na parte de baixo, na Rua Tibiriçá, havia um recanto cercado de figueiras bravas, com uma fonte e um laguinho. Era meu preferido, quando dava o cano do ginásio da Associação de Ensino. A escola ficava na Rua Américo Brasiliense, onde foi depois a Ceterp e hoje há uma agência da Caixa. Matando as aulas pagas pelo meu pobre pai, conversava fiado com os companheiros de vagabundagem, no geral o Gama, o Bilico, o Edmilson Leão – irmão do goleiro da Seleção que hoje é técnico do Corinthians.
Na esquina, Tibiriçá com América Brasiliense, ficava estacionado um carrinho de sorvete do Bernardino. Era pilotado pelo seu Antônio – nunca soubemos o sobrenome – que a gente chamava de Véio. Gozador malicioso e piadista, era amigo de todo mundo, mas não vendia fiado nem para o Capeta. O Véio Antônio não usava dessas conchinhas de bola para encher as casquinhas. Tirava o sorvete com uma colher de sopa, era mais generoso com as porções dos amigos e fazia comentário malicioso quando algum incauto pedia que enfiasse – o sorvete, claro – bem no fundo: “Ah, ele quer que enfie bem no fundo, he, he, he”. E a gente uivava...
Deus queira que Véio esteja vivo, mas tenho cá comigo que ele já se foi. Assim como já foram o Filhinho, o Eulisses e o Mário, da barbearia Smart, na Barão do Amazonas, o Toni Miyasaka, o “padre” Celso, diretor do Diário de Notícias, o bispo Mousinho e a dona Anna, minha santa mãe, que amava o centro da cidade e, particularmente, a Praça da Bandeira. Também já reduziram a pó o palacete de 12 janelas da Barão do Amazonas com Americano Brasilense, os casarões da gente fina que cercava a Praça e foi-se ao vento nossa infância querida, que os anos não trazem mais.
Ficou esse arremedo de logradouro que chamam agora – erradamente – de “praça das bandeiras”: um pavoroso depósito de merda de pombo, tomado por posseiros urbanos e barracas sujas de plástico azul. Gente que, com a incompetência ou cumplicidade da autoridade pública, loteou para si um espaço pertencente aos 550 mil habitantes de Ribeirão Preto.
Sei que o tempo não regride, que a infância não volta e tampouco os mortos ressuscitam. Isso passou. Mas, quanto à Bandeira, não abro mão:
Quero de volta minha Praça querida!, pois que a praça era do povo!
Texto de Luiz Augusto Michelazzo publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

Samuel Butter

domingo, 28 de junho de 2009

Mario Quintana



sábado, 27 de junho de 2009

Políticos são Políticos em Qualquer Lugar

Como a gente pode ler nesta frase do grande Charles Chaplin, políticos são sempre questionados e colocados em cheque. Nós brasileiros temos a tendência de acreditar que os políticos brasileiros são os piores e mais sujos do mundo. Mas, quanto mais nos informamos, mais claro fica que essa doença é universal. Acabamos de assistir os políticos ingleses, na Câmara dos Lordes, pagarem contas particulares com dinheiro dos cofres públicos, isto é, dinheiro dos cidadãos contribuintes.

ISADORA DUNCAN

Só uma grande artista como a Isadora Duncan para definir em uma frase a importância do amor.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O tolo que era sábio

Todos os dias o Mullah Nasrudin ia esmolar na feira, e as pessoas adoravam vê-lo fazendo o papel de tolo, com o seguinte truque: mostravam duas moedas, uma valendo dez vezes mais que a outra.
Nasrudin sempre escolhia a menor.
A história correu pelo condado. Dia após dia, grupos de homens e mulheres mostravam as duas moedas, e Nasrudin sempre ficava com a menor.
Até que apareceu um senhor generoso, cansado de ver Nasrudin sendo ridicularizado daquela maneira.
Chamando-o a um canto da praça, disse:
- Sempre que lhe oferecerem duas moedas, escolha a maior. Assim terá mais dinheiro e não será considerado idiota pelos outros.
Nasrudin lhe respondeu:
- O senhor parece ter razão, mas se eu escolher a moeda maior, as pessoas vão deixar de me oferecer dinheiro, para provar que sou mais idiota que elas.
O senhor não sabe quanto dinheiro já ganhei, usando este truque.
E acrescentou: - "Não há nada de errado em se passar por tolo, se na verdade o que você está fazendo é inteligente".

Pasquim completa 40 anos hoje

O primeiro número do jornal alternativo "O Pasquim" circulou pela primeira vez há exatos 40 anos, no dia 26 de junho de 1969.
A publicação, além do papel importante na resistência ao regime militar brasileiro (1964-1985), foi também um belo suporte para novas propostas e idéias.

Parabéns, Luísa!

Hoje, 26 de junho, a minha neta Luísa completa 3 anos de vida. E como vocês podem ver nas fotos, ela anda cada dia mais linda. Para este avô babão é um grande prazer poder estar aqui compartilhando essa notícia.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Wladimir Herzog

Hoje, às 19h30, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, os familiares e amigos de Wlado lançam o Instituto Wladimir Herzog que terá como objetivo organizar todas as informações (fotos, reportagens, documentos) sobre a vida e os trabalhos do jornalista. O instituto vai disponibilizar os dados a pesquisadores e estudantes. Além disso, pretende promover debates sobre a questão do papel do jornalista e das mudanças ocorridas na profissão.
Sábado, dia 27 de junho de 2009, Wlado completaria 72 anos. Wladimir Herzog morreu em 25 de outubro de 1975, nos porões do DOI-Codi. Na época, depois de os militares tentarem, em vão, convencer a sociedade de que ele havia cometido suicídio, ficou claro que Wlado foi torturado até a morte. Esse incidente foi um divisor de águas e desencadeou o fim das torturas no Brasil.
http://www.vladimirherzog.org

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Chafariz

Para Eurico Rezende
Quando se pousa numa cidade é preciso fazer ninho, dormir em chafariz.
Quando se chega é tecer tramas de amizade, esgueirar esquinas
Qualquer sombra é descanso, todo sorriso mata sede de passarinhos.

Um lugar onde pousa Pelicano, há agudos de Gaivota.
Um ponto de encontro um alfinete na década um tilintar de caneca.

Cores verdes e teto baixo afundam na madrugada
Cachorro Louco delega
Escultores entrelaçam corações em ferro e pedra

Músicos pululam Perereca
Talentos de Coelho raro
Humor de Canarinho

Ambiente adoçado com Mel e Kaxassa.
Feliz com a carreira que abraçou, professor?

Texto de Ricardo Lima publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

Boas Novas para o Planeta

Fabricantes e operadores de celular fecharam um acordo na terça-feira, dia 17 de junho de 2009, no Congresso Mundial de Telefonia Móvel em Barcelona, para trabalharem juntos na criação de um carregador universal para celulares.
Empresas como a Nokia, Motorola, LG, Sony, Ericsson e Samsung participam da iniciativa, que vai facilitar a vida dos usuários, evitando que a cada celular você tenha que descartar o carregador. Quem ganha com isso é o nosso planeta.

Praça das Bandeiras: um ponto de intersecção

Memórias, quem não as tem? Mas o que verdadeiramente fazer com elas? Eu respondo rápido. Deliciar-se.
Como é bom lembrar, nem só de coisas boas, mas de tudo. A lembrança pode até ensinar. E como aprendo com as minhas.
Em especial quero escrever sobre a Praça das Bandeiras, esta que fica bem de frente com a Catedral. Ela aparece em minha memória principalmente em sua versão noturna, menos movimentada, com poucos transeuntes. Quando ainda estudante de jornalismo, morando em Bonfim Paulista, a Praça das Bandeiras era meu ponto de intersecção. Da Unaerp até ela e dela até Bonfim. Este era meu percurso em algumas noites da semana.
Forço agora, para lembrar-me exatamente porque naquela época (1989/1992) não sentia qualquer medo de estar ali, às vezes, perto da meia noite, sentada no banco esperando o ônibus, em algumas ocasiões, sozinha. Não sei ao certo se a violência não era tão alarmante, se eu era mais corajosa ou se minhas preocupações em como conquistar o mundo aprisionavam o medo em uma área periférica do meu cérebro. De qualquer forma, é certo que medo eu não tinha e, mais certo ainda, é de que hoje eu tenho. De todas essas lembranças uma é mais exibida e pede sempre para ser contada.
Acontece que a rotina cria amigos e eu já era amiga de todos os motoristas de ônibus da empresa Rápido D’Oeste que fazia a linha Ribeirão/Bonfim. Tantas e quantas vezes naquele ônibus imenso só seguiam, eu o motorista e o cobrador. Chegava até me constranger o ônibus ter que ir para Bonfim somente pra me levar, mas o motorista explicava que comigo ou com trinta passageiros ele teria que fazer a última volta. Como imaginar o que estava por vir? Respondia perguntado um deles.
E é verdade. Da Praça das Bandeiras até Bonfim tinham, e acho que ainda tem, umas vinte paradas, como saber se alguém esperava ou não? Só mesmo percorrendo todo o trajeto. E assim o presente ia vagarosamente se tornando passado.
Certo dia, ou seja, noite, eu esperava pelo ônibus, como sempre, sentada no banco com um livro aberto. O lia com a dificuldade daqueles que enxergam pouco porque a luz era escassa, as árvores eram imensas e o sono era malvado. Minha distração na leitura manteve-me de cabeça baixa e não percebi a aproximação do ônibus. Se o perdesse, ir para Bonfim naquela noite, somente de táxi, era o último. Mas como disse, era amiga dos motoristas. E o daquela noite era, entre todos, o mais especial, tanto que ele não teve dúvida. Antes de virar a esquina na rua Visconde de Inhaúma, parou sua jardineira, tirou metade do corpo para fora ficando dependurado pela haste de metal e gritou.
_Hein, Adriana, está esperando alguém além de mim? Corri como ninguém para não fazê-lo esperar muito. Depois rimos da condição de motorista particular que às vezes ele se colocava.
Mas é assim que me lembro da Praça das Bandeiras. Um lugar que um dia foi tranqüilo.
Texto de Adriana Silva publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

terça-feira, 23 de junho de 2009

Rosai por nós

(Chico César e Alice Ruiz)
nossa senhora da flor roxa
rosai por nós
assim na vida
como no chão
a primavera de cada ano
nos dai hoje
encantai nosso jardim
assim como encantamos
o do vizinho
e não nos deixeis cair na tentação
de esquecer tuas flores

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Antes do Dia Partir

O que valeu a pena hoje? Sempre tem alguma coisa.
Um telefonema. Um filme...

Paulo Mendes Campos, em uma de suas crônicas
reunidas no livro O Amor Acaba, diz que devemos nos
empenhar em não deixar o dia partir inutilmente.
Eu tenho, há anos, isso como lema.

É pieguice, mas antes de dormir, quando o
dia que passou está dando o prefixo e saindo do ar,
eu penso: o que valeu a pena hoje?
Sempre tem alguma coisa. Uma proposta de trabalho.
Um telefonema. Um filme.
Um corte de cabelo que deu certo.
Até uma briga pode ter sido útil, caso tenha
iluminado o que andava ermo dentro da gente.

Já para algumas pessoas, ganhar o dia é ganhar mesmo:
ganhar um aumento, ganhar na loteria, ganhar um pedido
de casamento, ganhar uma licitação, ganhar uma partida.

Mas para quem valoriza apenas as mega-vitórias, sobram
centenas de outros dias em que, aparentemente,
nada acontece, e geralmente são essas pessoas que
vivem dizendo que a vida não é boa, e seguem cultivando
sua angústia existencial com carinho e uísque,
mesmo já tendo seu super apartamento, sua bela esposa,
seu carro do ano e um salário aditivado.

Nas últimas semanas, meus dias foram salvos por detalhes.

Uma segunda-feira valeu por um programa
de rádio que fez um tributo aos Beatles e que me
arrepiou, me transportou para uma época legal da vida,
me fez querer dividir aquele momento com pessoas que
são importantes pra mim.

Na terça, meu dia não foi em vão porque uma pessoa que
amo muito recebeu um diagnóstico positivo de
uma doença que poderia ser mais séria.

Na quarta, o dia foi ganho porque o aluno de uma
escola me pediu para tirar uma foto com ele.

Na quinta, uma amiga que eu não via há meses ligou me
convidando para almoçar.

Na sexta, o dia não partiu inutilmente só por causa de
um cachorro-quente.

E assim correm os dias, presenteando a gente com uma
música, um crepúsculo, um instante especial que
acaba compensando 24 horas banais.

Claro que tem dias que não servem pra nada,
dias em que ninguém nos surpreende, o trabalho não
rende e as horas se arrastam melancólicas, sem falar
naqueles dias em que tudo dá errado:
batemos o carro, perdemos um cliente
e o encontro da noite é desmarcado.

Pois estou pra dizer que até a tristeza
pode tornar um dia especial, só que não ficaremos
sabendo disso na hora, e sim lá adiante, naquele lugar
chamado futuro, onde tudo se justifica.
É muita condescendência com o cotidiano, eu sei,
mas não deixar o dia de hoje partir inutilmente
é o único meio de a gente aguardar
com entusiasmo o dia de amanhã.
Martha Medeiros

domingo, 21 de junho de 2009

Faz de Conta

Era um tempo de faz de conta. Brincadeira de criança, pipa, carrinho de rolemã, pião, bolinha de gude. Fantasia de casinha, boneca; escola de mentirinha com caderno, lição e nota.
Era tempo de sol a pino, rua cheia de árvore enfileiradinha e casa de porta aberta com lanche da tarde: pão, manteiga, café com leite. À tarde, hora do banho pra tirar o encardido do pé e a fileira de suor e terra do pescoço. Sopa na janta, alguém contava uma história, ave-maria e cama.
O universo cabia no quarteirão lá de casa: cem metros de rua São José, entre Rui Barbosa e Campos Sales. Era ali que a gente inventava a vida do jeito que queria. Nesse tempo não havia inimigos; o perigo andava longe, lá pelas bandas da cidade grande, em notícia de jornal. O Filósofo, por exemplo, bebia até cair, mas tinha uma biblioteca na cabeça e uma doçura imensa no coração. Andarilho, escolheu nosso mundinho para se instalar e vivia nos contando histórias. Um dia, apaixonou-se pelos olhos azuis da minha irmã, pra quem cantava emocionado “Boneca Cobiçada”.
Assim como ele, alguns personagens deste tempo grudaram-se na memória como num Amarcord particular. O dono do bar da esquina, um enorme árabe cuja unha do dedo mindinho, de tamanho descomunal, exercia sobre nós um verdadeiro fascínio. A cabeleireira do bairro, na época a mais conhecida da cidade, bondosa e simpática, toureando uma clientela de finíssimo trato; o moço que perdera o juízo, encostado na porta da rua, de pijama, cabeça baixa entre as mãos, impassível, eterno, sem tempo.
Na esquina onde hoje tem uma locadora de vídeo morava o médico de família – cabeleira grisalha e sorriso dentuço, meio manco, cultivando em seu bonito jardim aquelas florzinhas azuis que grudávamos na roupa. E claro, na outra esquina, a enigmática viúva rica e seu impecável motorista de cabelos de brilhantina. Boquiabertos, soubemos um dia que aquela torre que enfeitava a casa dela, abrigava um elevador. Um luxo cinematográfico para a época!
Havia o mecânico meio maluco que morava nos fundos de um longo corredor. Oficialmente arrumava bicicletas, mas seu grande e inacabado projeto era um fantástico automóvel que ele construía com sucatas. O espantoso bólido – objeto de nossa mais pura fascinação – repousava no quintal em meio a dezenas de galinhas que cacarejavam voejando sobre o veículo como se fosse um poleiro. Aos domingos, o velho e barrigudo mecânico-inventor envergava a eterna camiseta suja, instalava uma poltrona no carro e lá ia rua abaixo, dirigindo a geringonça sob o aplauso e a euforia da meninada.
Outra figura de doce lembrança era o quitandeiro italiano que morava com a família nos fundos da quitanda. Entre as verduras frescas, exibia preciosidades só possíveis neste tempo de faz de conta. Como bom “oriundi”, o homem deliciava a freguesia com enormes queijos parmesão e azeitonas pretas do tamanho de um limão.
Inesquecíveis também, as entiotadeiras. Longilíneas e silenciosas, compunham uma estranha coreografia na pequena sala que aguardava os fregueses. Lezes e organdís eram engomados até os vestidos pararem de pé, espalhados pelo chão como personagens de um conto de fadas. O cheiro da goma, o vapor subindo da mesa, o barulhinho tsiiiiii dos pesados ferros a carvão completavam a paisagem da casa apertada, de porta na rua.
O quarteirão inteiro era formado por casas parecidas -- graciosos bangalows com um pequeno jardim, varanda e janelas de madeira. O rico proprietário de todas as nossas casas era um solteirão que morava com as irmãs num elegante palacete, com vestígios vagamente europeus. Ali, depois do jardim e da escadaria de mármore, imaginávamos segredos insondáveis que tentávamos desvendar com as carinhas grudadas no gradil da fachada.
Nos dias de tempestade a água descia enfurecida num rio que cobria toda a São José e arrastava o que havia pela frente. Cadeiras, brinquedos e, às vezes, automóveis passavam navegando por nossa animada platéia que das varandas aplaudia o espetáculo ou, mais ousada, se metia na corredeira.
A igreja com seu relógio e suas badaladas não guarda mais os afrescos que enfeitavam as paredes. Com eles se foi um tempo de inocência, procissões, missal e mantilha. Foram-se também os anjos de cetim que envergávamos todos os anos para coroar Nossa Senhora.
Com exceção de um ou outro sobrevivente, não há mais no quarteirão nenhum vestígio físico deste tempo. A casa onde nasci transformou-se numa ótica e os edifícios imensos sombreiam todas as calçadas. Mas dentro da gente as paisagens não mudam. Estarão sempre lá o mecânico inventor, o fruteiro italiano, as passadeiras e o moço de pijama, todos personagens do nosso pequeno arsenal de certezas. No tempo do faz de conta, foram eles as referências territoriais e afetivas que nos guiavam diariamente em direção ao futuro.
Texto de Carmen Cagno publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Novo Livro da Carmen Cagno

Acabou de sair do forno o mais novo livro da Carmen Cagno. Pequena Pausa Para um Susto é uma coletânea de 47 textos divididos em 5 capítulos, sendo que no capítulo 3, que leva o nome do título do livro, você encontra 3 textos para um susto.
O livro é uma publicação da editora Coruja, tem 100 páginas, tamanho 18 x 18cm, impressão em off-set com capa plastificada. O lançamento será na Feira do Livro, no estande dos autores locais, no dia 27 de junho, sábados, das 11:00 às 12:00 horas. Compareça!.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto

Hoje, as 18 horas, na Esplanada do Theatro Pedro II, a Isabel de Farias, a Bel da Revide, estará abrindo oficialmente a 9ª edição da Feira do Livro de Ribeirão Preto.
Quero parabenizar a Bel e lembrar aos leitores que há 3 anos, quando a Bel aceitou ser a presidente da Fundação Feira do Livro, a situação era crítica, ninguém queria assumir a responsabilidade e a Feira corria o risco de tornar-se mais um grande projeto descaracterizado.
Este ano, o terceiro depois que a Bel assumiu, a Feira cresceu em tamanho e qualidade. A segunda maior Feira a céu aberto do País vai contar com mais de 100 escritores, entre eles os brasileiros Moacyr Scliar, Fernando Morais, Marcelo Rubens Paiva, José Hamilton Ribeiro, Júlio José Chiavenatto, Carmen Cagno, e mais os chilenos Luis Sepúlveda, Luis Aguilera e Tito Alvarado, o cubano Tirso Saenz, o português João Camilo dos Santos e o italiano Giovanni Ricciardi.
A Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto se apresentará durante a Feira, que também terá shows de: Bolão, o Zé Luiz Zambianchi, Vânia Lucas, Mario Feres, Bia Mestriner, Maria Rita, Paulinho da Viola, Adriana Calcanhotto, João Bosco, José Miguel Wisnik, Jorge Vercillo, Lenine, Luiz Melodia, Oswaldo Montenegro, Paula Toller, Toquinho, MPB4, Vanessa da Mata e dos chilenos Tita Parra e Antar Parra.
Este ano, o país homenageado é o Chile, a escritora a Cora Coralina, o Estado o Amazonas e o patrono é o Galeno Amorin, que foi um dos idealizadores da primeira Feira.
Na praça Carlos Gomes, terá uma casa da Cora Coralina, lá a Tina Oliveira, contadora de histórias das boas, estará contando histórias para crianças e adultos sobre a autora homenageada.
A Feira vai até o dia 28 de junho, nas praças XV de Novembro, Carlos Gomes e Esplanada do Theatro Pedro II. Os ingressos para Shows, Debates, Palestras e etc., estarão sendo distribuídos 1 hora antes do evento.
Boa Feira à todos!!

A Terra Respirando


Este vídeo do GreenPeace é mais uns daqueles que aparecem na net e, em pouco tempo, viram um fenômeno. Agora, é bem fácil entender porque de tanto sucesso. Além de ser um belo alerta, as imagens são lindas e a idéia é maravilhosa. Sem perceber você começa a respirar no ritmo do filme e, em pouco tempo, começa a relaxar. Experimente!

Clarice Lispector e a Vida

“Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém, que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.
Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade. A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre.”

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Mulher Perfeita

Certa tarde, conta uma antiga história sufi, Nasrudin tomava chá e conversava com um amigo sobre a vida e o amor.
-"Por que você nunca se casou, Nasrudin?", perguntou o amigo.
-"Bem", respondeu, Nasrudin, "para dizer a verdade, passei toda a minha juventude a procurar a mulher perfeita.
No Cairo conheci uma moça linda e inteligente, com olhos que pareciam olivas pretas, mas ela não era muito cortês.
Depois, em Bagdá, conheci uma mulher de alma generosa e amiga, mas não tínhamos muitos interesses em comum.
Muitas mulheres passaram pela minha vida, mas em cada uma delas faltava alguma coisa, ou alguma coisa estava demais.
Então, um dia, eu a conheci. Era linda, inteligente, generosa e bem-educada. Tínhamos tudo em comum. Na verdade, ela era “perfeita".
-"E então", replicou o amigo de Nasrudiin, o que aconteceu? Por que você não se casou com ela?
Pensativo, Nasrudin sorveu mais um gole de chá e concluiu:
- “Infelizmente, parece que ela estava a procura do homem perfeito."

Mullá Nasrudin

Há quem diga que Mullá Nasrudin nasceu e viveu numa pequena cidade da Turquia por volta do séc. XIII. Há quem diga que não é nem um pouco importante saber se isso é verdade ou não. Tal imprecisão não é casual, pois a intenção é justamente a de proporcionar um personagem à margem do tempo e destituído de uma personalidade histórica.
Para o sufismo, mais importante que o Nasrudin histórico é o seu ensinamento, que permanece através dos tempos.
Grande prova de sua atualidade e vitalidade é a sua presença em quase toda a literatura mundial. Ultimamente, coletâneas de contos de Mullá Nasrudin têm sido publicadas em vários países ocidentais, além de formarem parte integrante da tradição escrita e oral da maioria dos países orientais.
A "História de Nasrudin" que aparece já no séc. XIII como um apêndice à primeira compilação de seus contos de que se tem noticia, alude a algumas das razões de sua existência. Esses contos dão forma a um sistema completo de pensamento que age em níveis de profundidade tão diversos que não pode ser totalmente extinto. Além disso, o humor tem a característica de difundir-se e deslizar através dos padrões mentais e sociais impostos à humanidade pelo costume e pela autoridade.
Pode ser verdade que os relatos devem sua sobrevivência a seu perene atrativo humorístico, mas para os sufis este aspecto é secundário. A verdadeira intenção com a qual foram desenhados é outra: a de proporcionar, no contexto de uma situação de ensinamento, uma base para a difusão da atitude sufi durante a vida.
Entretanto, os sufis concordam com os que não seguem nenhum caminho místico para ler os contos de Nasrudin e permanecem fazendo o que vem sendo feito através dos séculos: desfrutando-os!

Um Site Só de Boas Notícias

Um novo site. Um site só com boas novas. Um site com uma nova tecnologia, uma nova maneira de dispor as notícias. Uma dica para a primeira vez, brinque com o mouse, passeie pela nova tecnologia, descubra quanta novidades. Agora, quando quiser ler algo, clique em cima da noticia e tire a mão do mouse. Ela irá abrir no melhor lugar da página e do tamanho exato para você ler.
Gostei de tudo, da tecnologia, da idéia e das matérias. Vale a pena conferir.
http://www.asboasnovas.com/home/

terça-feira, 16 de junho de 2009

M. C. Escher

Escher é um dos artistas que mais me atraiu na adolescência. Quando, pela primeira vez, vi os seus desenhos geométricos com ilusões de ótica e idéias completamente fora do padrão, fiquei apaixonado. Mauritus Cornelis Escher, nasceu em Leeuwarden na Holanda em 1898, faleceu em 1970 e dedicou toda a sua vida às artes gráficas. Na sua juventude não foi um aluno brilhante, nem sequer manifestava grande interesse pelos estudos, mas os seus pais conseguiram convencê-lo a ingressar na Escola de Belas Artes de Haarlem para estudar arquitetura.

http://www.mcescher.com/

Yakisoba no estilo Bee Gees

Depois do advento do YouTube os filmes viraram uma festa na internet. É impressionante a capacidade de produção dessa humanidade e, mais ainda, a criatividade.
Este filme que ensina como se fazer um yakisoba cantando como os Bee Gees é dos mais engraçados que já vi. Se você não viu ainda, prepare-se para rir. Se já viu, veja novamente porque irá rir como na primeira vez.

Charles M. Schulz.

Dizem que Schulz passou a vida sendo derrotado. Na escola nunca foi bom em nada. Nos esportes também não tinha aptidão para nada. Quando resolveu ser desenhista pediu emprego para os estúdios Walt Disney e foi rejeitado depois de ter se dedicado por meses fazendo desenhos. Tudo isso resultou no Charlie Brown, o garotinho simpático cuja pipa nunca voa. Um menino que nunca conseguiu chutar uma bola de futebol. Charles Schulz é o criador da tira Peanuts, do cachorro Snoopy e do pequeno personagem Charlie Brown. Uma tira que continua charmosa e tem lugar garantido na história do quadrinho.
http://tiras-snoopy.blogspot.com/2006/02/homenagem-charles-m-schulz.html

O interior do invisível

Esquece o mundo e comanda o mundo.
Sê a lâmpada, o barco salva-vidas,
A escada.

Sai de tua casa e, como o pastor,
Ajuda a curar a alma do teu próximo.
Entra no fogo espiritual
E deixa-te calcinar.

Sê o pão bem assado, sê o senhor da mesa.
Vem, sacia teus irmãos.
Tu, que tens sido a fonte da dor,
Sê agora o deleite.

Viveste como uma casa sem alicerces.
Sê agora o Um que perscruta
O interior do invisível.

Assim que me calei,
Uma voz chegou aos meus ouvidos:
“Se te tornas isto, serás aquilo”.

Silêncio!
E depois, mais silêncio.
Não uses a boca para falar.
A boca é para provar dessa doçura.

Jalal ud-Din Rumi

segunda-feira, 15 de junho de 2009

TEXTO DE SANTIAGO GAMBOA

Tradução livre de Luiz Augusto Michelazzo
É o único tema em que sou radical e intolerante, no qual não escuto argumentações.
As mulheres da minha geração são as melhores, ponto.
Hoje têm quarenta e picos, inclusive cinqüenta, e são belas, muito belas, porém também serenas, compreensivas, sensatas e, sobretudo diabolicamente sedutoras, isto, apesar dos seus incipientes pés-de-galinha ou desta afetuosa celulite que caprichosamente invadem suas coxas, mas que as fazem mais humanas, mais reais.
Formosamente reais
Quase todas, hoje, estão casadas ou divorciadas, ou divorciadas e recasadas, com a intenção de não se equivocar no segundo intento, que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarto intento.
Que importa?
Outras, ainda que poucas, mantém um pertinaz celibatarismo e o protegem como a uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando abre suas portas a algum visitante.
Nascidas sob a era de Aquário, com a influência da música dos Beatles, de Bob Dylan, de Lou Reed, do melhor cinema de Kulbrick e do início do bom latino-americano, são seres excepcionais.
Herdeiras da revolução sexual da década de 60 e das correntes feministas, que entretanto receberam passadas por vários filtros, elas souberam combinar liberdade com coqueteria, emancipação com paixão, reivindicação com sedução.
Jamais viram no homem um inimigo, apesar de que lhe contaram umas quantas verdades, pois compreenderam que se emancipar era algo mais que colocar o homem para esfregar o banheiro ou trocar o rolo de papel higiênico, quando este tragicamente se acaba, e decidiram pactuar para viver em dupla, essa forma de convivência que tanto se critica, porém, que com o tempo, resulta ser a única possível, ou a melhor, ao menos neste mundo e nesta vida.
São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.
Usaram saias indianas aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos, cobriram-se com suéteres de lã e perderam sua parecença com Maria, a Virgem, em uma noite louca de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar El raton, de Cheo Feliciano, na Teja Corrida ou em Quebracanto, com algum amigo que lhes falou de Kafka, de Gurdjieff e do cinema de Bergman.
No fundo de suas mochilas havia pacotes de Pielroja, livros de Simone de Beauvoir e fitas de Victor Jara, e ao deixar-nos, quando não havia mais remédio senão deixar-nos, dedicavam-nos aquela canção de Héctor Lavoe, que é ao mesmo tempo um clássico do jornalismo e do despeito, e que se chama:
“Teu amor é um jornal de ontem”
Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e aprenderam de cor canções de Silvio Rodriguez e Pablo Milanez, conheceram os sítios arqueológicos, foram com seus namorados às praias, dormindo em barracas e deixando-se picar pelos pernilongos, porque adoravam a liberdade e, sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam fazendo na sua
formosa e sedutora madureza.
Souberam ser, apesar da sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas.
Deusas com sangue humanos
O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro para que suba, se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu acompanhante por dentro.
Por isso, para os que nascemos entre as décadas de 40 e 60, o dia da mulher é, na verdade, todos os dias do ano, cada um dos dias com suas noites e seus amanheceres, que são mais belos, como diz o bolero, “quando está você”.
Que belas são por Deus, as mulheres da minha geração!

Geometa

Trabalho desenvolvido em 2000 para o Marciano, geólogo e grande amigo.

Florbela Espanca

Fumo
Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...

Pablo Neruda

Saudade
“...Saudade é solidão acompanhada,
É quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado
que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe
o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
É a dor dos que ficaram para trás,
É o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
Aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
Não ter por quem sentir saudade,
Passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido...”

Achados & Perdidos

Como e onde encontrar o que resta da alma de Ribeirão.
Uma certa unanimidade aponta o Pinguim como o grande ponto da gastronomia de Ribeirão Preto. Não há como questionar o charme desse septuagenário bar-restaurante-choperia, mas é indiscutível que lhe falta alguma coisa. Impossível saber se foi simples extravio ou perda definitiva.
Parece que o tempo conseguiu prender no Quarteirão Paulista apenas um pedaço da alma da velha capital do velh’oeste brasileiro. O resto está espalhado pela cidade. Num simples giro pelo centro é possível juntar alguns fragmentos dessa lenda brasileira.
A cidade precisava dar uma parada no seu crescimento. Volta-se ao centro em busca de uma referência que nos linque com o passado, mas os detalhes se apagam a cada reforma e a gente como que perde o fio da meada nesse emaranhado de fios e fachadas mutantes.
Sobrou a praça, reduto de frescor e serenidade. E resta o Pedrão solene com sua estatura de cimento, mas nem ele com sua clássica sobriedade é capaz de absolver os que deixaram a Estrela d’Oeste apagar-se na queima impune do Cerrado Paulista.
Sem chorar, baixe os olhos e preste atenção nos paralelepípedos que cobrem o chão generoso do espaço entre a praça e o teatro. Foram colocados aqui há 100 anos, são os patronos de um plano diretor que jamais se concretiza. Por pouco não foram cobertos pelo manto negro do progresso. Salvou-os uma turma de saudosistas.
Algumas poucas pedras centenárias ficaram expostas para embalar as caminhadas e sustentar conversas fiadas.
Lembre-se: não importa qual seja o palocci de plantão na cadeira de prefeito, quem manda na cidade são os cupins, as lesmas e os chopins. As andorinhas são testemunhas.
Mas veja que nem tudo se perdeu. Repare quantos bares põem cadeiras nas calçadas e sinta se aí não está presente um pedacinho da alma da cidade.
Sim, a beleza mora na simplicidade. A riqueza, na diversidade.
Esse brilho fugaz no rótulo úmido das garrafas suadas, esse raio fúlgido no colarinho generoso dos copos de cerveja, essa fartura nas porções que enfeitam as mesas -- carne seca, queijo provolone, filé no palito e lambari frito...Tudo isso são cacos brilhantes daquela alma varonil que se extraviou na poeira e na lama de tantas temporadas.
Nesses bares, nessas mesas simples o povo brinda o trivial sem maiores ilusões. Sente-se, peça uma também. Sozinho ou acompanhado, saúde a memória dos que criaram, mantiveram e freqüentaram os grandes pontos da gastronomia e da boemia ribeirãopretana, esconderijos onde a alma de Ribeirão busca refúgio. Beba e você verá que mesmo de porre um filho teu não foge à luta. Complete a lista:
Cassino Antarctica
Lanches Paulista
Caneca de Prata,
Três Garçons,
Restaurante Jangada,
Chopão
...
Texto de Geraldo Hasse publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07