sexta-feira, 31 de julho de 2009

A Comunicação mudou. Que Bom!

Gente, vejam que maravilha este texto! Encontrei no blog Balaio do Kotscho, que já recomendei aqui. "Mundo bão, sô!" é uma crônica do Simei de Almeida, uma figura especial que já morou em Ribeirão Preto. Há 25 anos ele mora na região amazônica, no Acre, onde exerce a atividade de micro empresário e micro pecuarista, além do ofício de escritor amador pelo prazer de escrever.
Mundo bão, sô!
Existem dois mundos: o mundo de quem gosta de agitação, corre-corre, buzinações, gás carbônico, diferente do mundo dos “oi sô”. Nada sou contra quem gosta de ficar em cima de um viaduto vendo a sintonia dos carros se movimentando, frenagem por igual, uma fila vai e outra vem. Chega ser contagiante ver a habilidade dos condutores dos veículos e motociclistas fazerem suas obrigações na condução de suas respectivas máquinas, às vezes até inconscientes do que estão fazendo, conduzindo seus carros por vias super movimentadas pela praticidade do dia-a-dia. Já fazem a condução pelo seu subconsciente pelo hábito de quem faz aquilo todos os dias.
Grandes metrópoles, progresso, grandes executivos, oferta de consumo e vítimas do consumo. Alberto vai trabalhar, sai de casa as 04:00 horas da manhã para pegar o ônibus e depois o metrô. É possível que chegue ao trabalho lá pelas 07:00h. Antes de sair ele vai à cama de sua Aninha, sua filhinha, e lhe dá cheiro, ela ainda dormindo.
Alberto, devido seu computador ainda ser um Pentium ele trocou por um Dual Core, mais uma promoção de uma TV de LCD de 32 polegadas nas Casas Bahia, tem que fazer umas horas extras para ajudar no pagamento das prestações do Dual Core e da TV LCD. Depois da hora extra, mais metrô, mais ônibus. Alberto chega em casa lá pelas 22:00h. Sua filhinha já está dormindo. Nesse corre-corre, talvez Alberto a verá acordada para lhe dar um abraço e um cheiro somente no final de semana.
E assim é a mesma coisa para João, Dna. Marta, Dna. Francielli e tantos Antónios. Pô, mais tem uma coisa boa nisso tudo! Num domingão Alberto pode ficar em frente da TV LCD de 32” para assistir estes programas de palco que rolam nas telinhas. Uma pessoa que vem de fora, não adianta pedir informação pro Alberto no meio da rua. Ele tem muita pressa para chegar no trabalho ou fazer uns afazeres fora dele. Se pedir informação, talvez a receberá. Mas começa a ouví-la numa esquina e acaba de ouví-la na outra esquina, não dá para dar informação parado!
Vou à casa do Alberto e pergunto:
_ Você sabe onde mora o Sr. Custódio?
– Sei não, seu moço, vai aí no vizinho e pergunta!
Vou na casa do vizinho e pergunto:
_ Você sabe onde mora o Custódio?
– Custódio do quê?
– Custódio de Mato Arruda!
– Sou eu mesmo moço…. O Alberto não conhece o vizinho.
Nas cidadezinhas, lá nos Rincão do Brasil, a coisa é bem diferente. Sai-se na rua para resolver determinado assunto que você faria em trinta minutos, e você acaba gastando três horas para resolvê-lo. Não há contentamento em apenas dizer: boa tarde “Seu Jão”, como tem passado? Não, o problema é perguntar como tem passado. Porque o Seu Jão vai lhe dizer como está passando, ali vai um tempão. Mais na frente, oi Dona Crotilde, mais na frente, Dona Esmeralda……quanto tempo…..como está Seu Firmino? Vai ali mais um bom tempo.
Sair pela rua principal da cidade é outro problema. De taberna em taberna, o proprietário lhe chama….Vem tomá um cafezinho moço! De comércio em comércio, você daqui apouco está esturricado de tomar cafezinho. Cafezinho você não nega, é falta de educação. Vizinho você não só o conhece, você sabe literalmente da vida dele. Se o seu vizinho do outra lado da cidade der “uma puladinha de cerca” você saberá, com certeza saberá. Soltar gases é outro problema, tem que ser o mais discreto possível, se não a cidade ouve.
Político em cidade pequena tem que ser muito “cara-de-pau” ou ser muito transparente, pois o contato com o famigerado eleitor é comum nas ruas. O cabra não tem por onde escapar ou ficar no anonimato, o corpo a corpo é diário, e não é só em épocas de eleição.
Que bom, que bom, você na área rural poder pisar literalmente na bosta da vaca, sentir o cheiro da terra molhada, ouvir o gorjear dos pássaros e ouvir os gritos dos vaqueiros, ver carros fazerem malabarismo em estradas de barro. Dá diversidade, se vê algo contagiante. Bicho de pé também é bom. Bicho de pé não é chato, Bicho de pé dá no pé. “Chato dá noutro canto”, esse é chato pra dedéu.
Cidade pequena tem lá seus problemas, vizinho chato é um caso sério. Sei de uma história de um cabra que processou seu vizinho porque o galo dele cantava muito cedo e o acordava. Como ninguém processa galo, processou o dono do galo. Ainda bem que existem grandes metrópoles, lá tudo se produz. O que seria se não tivesse quem não gostasse de buzinações, ônibus e metrô lotados, congestionamento, fábrica contratando para turno diurno e noturno. Se não existissem os Albertos, o que seria dos Jãos? O que seria de nóis, se não existissem vocês!
Voce vai saber mais sobre o Simei no seu Blog:
http://www.somosdaselva.blogspot.com/

A LEI ANTIFUMO ESTÁ CHEGANDO

Já fui fumante. Deixei de ser fumante há 5 anos. Não sou defensor do fumo ou de qualquer tipo de vício, mas, acho um absurdo essa onda que assolou o mundo e, em especial o Brasil, com relação ao cigarro. É uma campanha, na minha maneira de enxergar, completamente autoritária e violenta.
Colocar limites, cuidar da saúde, proteger as crianças, acho importante e até fundamental. Agora, da maneira que estão fazendo, pode ser que um dia, vamos ver nossos netos e bisnetos fumando cigarro como se fuma crack nas ruas de São Paulo.
No Brasil, qualquer lojinha de 1,99 vende um gorózinho (uma pequena embalagem plástica de pinga), mas nunca vi nenhum comentário, nem dos políticos e nem dos jornalistas. E olha, o número de viciados é muito maior e causa problemas muito mais sério.
Agora, como não sou escritor, transcrevo abaixo o melhor artigo que li sobre o assunto. Foi escrito em maio de 2002 pelo jornalista Jardel Sebba para a Revista Super Interessante - Edição 176. Alguma das coisas que ele previa na época já aconteceram.

SUPER polêmica
Idéias que desafiam o senso comum
LIBERDADE. UM RARO PRAZER

Eu fumo, com muito prazer. Há 12 anos, o cigarro é parte fundamental do meu dia. Minhas pequenas rotinas só estão completas depois de algumas baforadas. Não tenho a menor vontade de parar de fumar. O cigarro me concentra, me acalma, me faz companhia, me consola e alivia a minha tensão. Fumar é um prazer. Um prazer destrutivo, inútil e arriscado, alguém há de apontar. Sim, como só os grandes prazeres da vida podem ser. Como caminhar pela cidade de madrugada ou amar uma mulher. Não existe prazer sem risco.
Eu sustento o meu vício, pago meus impostos e consumo um produto legal, regulamentado e taxado. Mas sou tratado como um cidadão de segunda classe em função de um patrulhamento humilhante e abusivo que avança justamente sobre duas coisas que me são tão caras: o cigarro e, em especial, o direito a uma vida menos chata e sem graça. Nos últimos anos, essa esquadra dos bons hábitos transformou o mundo num lugar insuportável. É proibido fumar no avião. É proibido fumar no restaurante. Os maços de cigarro vêm com aquelas imagens ameaçando: “Se você fumar, eu te pego lá fora”. Basta! Hoje eles proíbem o cigarro, amanhã vão querer banir o açúcar, o café, o doce de coco, a Fanta Uva, o cine prive dos motéis, até o dia em que todo mundo vai acordar tomando açaí na tigela e fazendo 50 abdominais. Viver mais, assim, para quê? Posso ser acusado de ser um idiota sujeito a câncer de boca e de pulmão, mau hálito, perca dos dentes e impotência sexual. Mas alguém que preza, acima de tudo, o direito de ser idiota que quiser ser.
A fumaça do meu cigarro incomoda. Mas esse não pode ser um argumento definitivo para que o direito alheio prevaleça sobre o meu. Isso não pode servir para justificar a intolerância, porque há uma convivência possível entre as partes que exige apenas um ambiente arejado e boas doses de bom senso. Se o meu cigarro incomoda, há uma série de coisas que também não me agradam muito, como pessoas que falam sem parar, axé music ou mulheres vestidas em desacordo com a sua faixa etária. Mas parto do pressuposto de que somos adultos o suficiente para sermos ridículos cada qual à sua maneira, falando sem parar, requebrando de modo frenético atrás de um trio elétrico, ou se vestindo de forma caricata. Ou fumando.
“Crianças começam fumar ao verem os adultos fumando.” É verdade. Mas crianças também começam agredir quando vêem os adultos agredindo e a beber quando vêem adultos bebendo. Seria o caso de confinar a realidade que não nos agrada num fumódromo do lado de fora? Ou de educar nossos filhos apropriadamente, para que eles olhem o mundo com o devido juízo de valor. A responsabilidade pelo discernimento do que é certo ou errado das crianças que começam a fumar é de seus respectivos pais. Não é minha, nem da Souza Cruz ou da Phillip Morris. Pouco me importa, sim, a compreensão que ele vai ter de valores como a tolerância e o convívio com as diferenças. Tão em falta em hordas antitabagistas.
Nas propagandas de cigarro enganam o consumidor. A lei n 10.167, de dezembro de 2.000, proíbe a propaganda de cigarro, mesmo sendo este um produto legal. Supostamente para evitar a má influência dessas peças publicitárias sobre os mais jovens. Seguindo esse raciocínio brilhante, seria importante prestar alguns esclarecimentos que, espero, não estraguem o dia de ninguém: energético não faz voar, cerveja não atrai mulher bonita e panetone não reata laços familiares rompidos. Se o governo tem problemas com propaganda enganosa, poderia ter começado a resolve-los no próprio quintal há três anos, quando lançou uma propaganda desrespeitosa em que a figura de um traficante estabelecia um paralelo absurdo entre o cigarro e as drogas ilícitas. O tráfico de entorpecentes, até onde eu sei, não gera 5, 5 bilhões de dólares aos cofres públicos por ano em impostos, dinheiro que, ao que parece, não faz mal à saúde financeira de nenhum Estado.
A partir do ano que vem, de acordo com essa mesma lei, eventos culturais patrocinados pela indústria do cigarro também estarão proibidos. Vistos como meras peças publicitárias (bobagem todo mundo sabe que o que menos se fumava no hollywood Rock era cigarro...), festivais relevantes como o Carlton Dance e o Free Jazz estão com os dias contados. Mas festival patrocinado por marca de uísque pode. Há diferença? Claro. No décimo cigarro, você sente um leve pigarro. Na décima dose de uísque, você está sujeito a não ir trabalhar, a bater na mulher, a entrar na contramão... E depois nós, fumantes, é que somos os ignorantes.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Amargo Pesadelo


Esta é uma das passagens mais linda do cinema americano. O filme Deliverance, com título em português de Amargo Regresso é de 1972, com Jonh Voight, Burt Reynolds, Bobby Trippe, Drew Ballinger e direção de John Boorman. O filme recebeu 3 indicações ao Oscar; de melhor Filme, melhor Direção e melhor Edição. O roteiro é muito bom. São quatro amigos que vão fazer a última viagem de canoa por um rio, numa região que será tomado por uma represa e, depois de varias pessoas tentarem fazer que eles desistissem da aventura por causa do perigo, a decisão é tomada depois que acontece esse duelo de violão com banjo.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Postais Especiais Dobrados


Hoje começo a publicar uma nova série de cartões postais, os dobráveis. Acima, você vê a capa. Este tem texto da Marina Lima e do Antonio Cicero, ao abrir você encontra a parte que vem abaixo.
Espero que gostem!

Lista de Preferências

Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexeqüíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, as insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.
Meses, outubro.

Elementos, os fogos.
Divindades, os logos.

Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.

(Bertolt Brecht)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pousada Casa Milà

O nome é uma homenagem ao artista catalão Antoni Gaudi, feita pelo casal de arquitetos Rafael e Mila. Esse casal saiu da cidade de São Paulo há 12 anos para fazer uma pousada no meio da Mata Atlântica entre Ubatuba e Paraty.
Assim, no primeiro instante, pode parecer coisa de loucos. Mas, no momento em que você enxerga a paisagem que eles vêem todas as manhãs, tudo se explica. Sem dúvida ali é um pedaço do que se instituiu chamar de paraíso. Paraíso em que eles vivem.
Ali a gente tem encontro marcado com passarinhos dos mais diversos, beija-flores, tiê sangues, saíra sete cores. O verde da mata Atlântica se oferece para você em todos os tons que se possa imaginar com formas das mais diversas em meio a figueiras centenárias, e flores, muitas flores coloridas. Tudo isso, fazendo moldura para um mar generoso que varia seus tons entre o verde e o azul e que se encontra no horizonte com um céu cujos movimentos parecem acompanhar no horizonte as ondas do mar.
Depois que você se deixar embriagar por toda a beleza natural, aí você começa a perceber a beleza da arquitetura e da decoração de cada pedacinho do espaço que harmonicamente se integra à natureza: a Pousada Casa Milá.
São 8 chalés, todos do mesmo tamanho, com vista para o mar e com decoração exclusiva e muito original. Tudo de uma simplicidade muito sofisticada. Em alguns momentos, você acha que está num hotel 5 estrelas, mas em tempo descobre que está num local que nasceu estrelado e que proporciona um bem estar impossível de ser traduzido em palavras.
Rafael e Mila não montaram uma pousada com fins meramente comerciais. Eles fizeram uma opção de vida ao eleger aquele lugar para construir sua pousada, espaço em que moram e recebem com prazer, tendo o cuidado de, todos os dias, preparar um café da manhã incomum. Três tipos de frutas escolhidas a dedo. O mesmo acontece com o suco, o café, a coalhada feita em casa, a geléia e os pães, que chegam quentes e variados no momento exato.
Enquanto Rafael prepara o delicioso café da manhã, a Mila serve ou o inverso. Rafael também faz lanches, que Mila avisa já serem famosos e ele, silenciosamente, faz um sinal tentando dizer que é um exagero de companheira. Depois, ao prová-los, você descobre que não foi exagero algum.
Da varanda de qualquer um dos chalés, avista-se o mar, a praia da Almada, que faz parte de Ubatuba. À direita, você encontra a praia do ubatubamirim e a esquerda a praia da fazenda no caminho para Paraty. Agora, andando da praia da Almada para a praia do Engenho, você encontra um caminho que se percorre em 20 minutos, por meio de uma trilha na mata e que vai dar na praia da Almada Brava, uma reserva natural, onde, além dos pescadores e daqueles que se dispõem a fazer a caminhada, ninguém mais chegou.
A Pousada Casa Milà ocupa uma área de 25 000 metros quadrados na encosta de um morro e ali a gente percebe ser possível o ser humano integrar-se culturalmente à natureza sem causar-lhe danos, desfrutando da beleza e do prazer que ela proporciona.
Maiores informações pelo site: www.casamila.com.br

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O sermão de Nasrudin

Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin. Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita. Ele concordou.Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou:
- Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?
- Não, não sabemos.
- Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja - disse o Mulla, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.
Desceu do púlpito e foi para casa. Um tanto vexados, seguiram em comissão para, mais uma vez, pedir a Nasrudin fazer um sermão na Sexta-feira seguinte, dia de oração.
Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes. Desta vez, a congregação respondeu numa única voz:
- Sim, sabemos
- Neste caso não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora. E voltou para casa.
Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da Sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes.
- Sabem ou não sabem? A congregação estava preparada.
- Alguns sabem, outros não.
- Excelente - disse Nasrudin - então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimento para àqueles que não sabem.
E foi para casa.

Sem Poesia, Mas Profundo!



domingo, 26 de julho de 2009

Um Sonho


Este é um comercial da Honda que encanta pela perfeição das vozes e da edição. Já é antigo, mas é sempre atualissimo, uma verdadeira obra de arte.

Brasil, Brasil, Brasil

Coco Gelado Brasil

Gato de Bode

Gato de Óculos

Estou abrindo este espaço no Blog porque, ao longo dos anos, fiz muitas artes para camisetas. Algumas tornaram-se camisetas e rodaram pelas ruas, outras, a grande maioria, nunca foram impressas. Quem sabe, aparece alguém para colocá-las em circulação.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Meu Pai, Meu Herói!

Oração de Santo Agostinho
A morte não é nada.
Apenas passei ao outro mundo.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.
Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou:
continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Porque eu estaria fora de teus pensamentos,
apenas porque estou fora de tua vista?
Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Gilberto Alves Baptista - 23/12/23 - 20/07/09

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A bunda por Carlos Drummond de Andrade

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda
redunda.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A vida era alegre, naquele tempo


A gente chegou a Ribeirão Preto e desceu na estação da Mogiana com o coração batendo. A estação era imensa e bonita, lotada de gente desconhecida.
Com a mala de papelão sem fecho, amarrada com uma cordinha de sisal, a gente desembarcou da segunda classe de bancos duros de madeira e seguimos a recomendação dos mais velhos: não conversar com ninguém e olhar só para a frente. Atravessamos o rio e passamos por dentro do Mercado Municipal que ficava bem defronte e tinha frutas brilhantes e cheirosas -- maçãs de doente de hospital, uvas, peras, bananas, mamões...
Aí, passada a tentação, subimos rumo à pensão já encomendada na rua Tibiriçá, passando pela rua General Osório com suas lojas repletas de novidades: chapéus, galochas, guarda-chuva, capas de chuva, canivetes e roupas de todo tipo. A pensão era igual a todas as pensões e fomos acostumando, trabalhar de dia e estudar de noite.
De tarde, a gente tomava chope no Pingüim, pardais chilreando e o consumo marcado pelas "bolachas" deixadas pelo garçom. Dali se via o Hotel Umuarama, o prédio mais alto da região que mostrava caracóis verdes e vermelhos no alto, novidade do néon importado e que garantia a segurança dos aviões. Cinema era no Pedro Segundo; no moderno Cine Centenário, no centro da cidade, ou nos bairros -- cada bairro tinha um cinema.
Depois do cinema, sanduíche de pernil no Urubatan, na Álvares Cabral, regado a molho generoso de tomate. Lá para baixo, na rua José Bonifácio, as putas acenavam das janelas oferecendo amor, gonorréia e outras doenças, castigo para o coração e pinto juvenis, tudo curado a ferro e fogo. Com o tempo, a gente descobriu as putas da rua São Paulo e da Vila Carvalho. Pegava um táxi "Biriba" na Amador Bueno, esquina da Drogasil, e todos para a vida alegre de mulheres competentes e doces implorando "paga um Cuba, meu beimr?", mostrando pernas e seios apetitosos para nossa insaciedade juvenil. Depois de horas de amor, rumo ao "Três Garçons" na avenida Saudade para comer ensopado de cascudo ou uma feijoada com as meninas, naquela hora puras e simples, sentadinhas e comportadas à mesa, repuxando os vestidos e recordando mães e irmãs que deixaram em Minas, dando beijos na boca da gente e jurando um amor eterno que nunca passou daquele fim de noite...
Na outra noite a gente voltava. Ribeirão era o centro do mundo naquele tempo. E era muito bom...
Texto de Victor Cervi publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

domingo, 19 de julho de 2009

O Homem na Lua Há 40 anos

"É um pequeno passo para um homem, mas um
gigantesco salto para a Humanidade":
Neil Armonstrong, ao pisar na Lua em 20 de julho de 1969
EU VI! Em 20 de julho de 1969, exatamente às 23 horas, 56 minutos e 20 segundos de Brasília, o astronauta americano Neil Armstrong, 38 anos, entrando para a história como o primeiro homem a pisar na Lua e avistar a Terra de lá. Eu estava em Santos, assisti numa televisão pequena em preto e branco. A bordo da nave Apolo XI, estavam 3 astronautas, Neil Armstrong, Edwin Aldrin, conhecido como "Buzz" (zumbido) e Michael Collins.
Nós sabíamos tudo da vida deles, pois a imprensa vinha nos bombardeando há alguns meses com o fato que acabou acontecendo naquela noite, eles aterrissaram na Lua após levantarem vôo nos EUA 4 dias antes, em 16 de julho.
Essa missão, a Apolo11, colocava definitivamente, após 12 anos, os Estados Unidos, na frente da corrida espacial. Desde 1957, quando os russos puseram em órbita o primeiro satélite da Terra fabricado pelo homem: o Sputnik, os EUA vinham sempre correndo atrás.
Eu me lembro do meu pai me avisando. Ele falava de maneira entusiasmada, tomado pela propaganda americana.
O pai de meu amigo, onde eu estava hospedado, naquele dia, na cidade de Santos, passando as férias, nos intimou a ficar acordados para assistir ao fato, ao vivo e em preto e branco.
Os astronautas voltaram à Terra no dia 24 de julho de 1969, chegando com 30 segundos de atraso, e foram recebidos como heróis. Desde então, os satélites têm revolucionado os sistemas de comunicação e há naves não tripuladas viajando para além dos limites do sistema solar.

sábado, 18 de julho de 2009

Estas Intectuais são do Barulho!

Nelinha, Semi, Silvia, Vera, Carmen, Naiá, Vanete, Silvia, Aglair e Silvia fazendo pose na pousada Casa Milá, na praia da Almada, pertinho de Paraty.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Billie Holiday uma Diva Eterna

Eleanora Fagan Gough, conhecida no mundo como Billie Holiday, morreu no dia 17 de julho de 1959, há exatos 50 anos, com 44 anos de idade. Seu estilo de cantar é único, foi ela quem deu interpretação às letras das músicas como ninguém antes. Sua voz e sua interpretação são inconfundíveis, basta ouvir uma vez para nunca mais esquecer.
Billie teve uma vida muito louca. Todos seus relacionamentos foram muitos conturbados, abusou muito das drogas e viveu períodos de depressão horríveis. Mas, apesar de tudo isso e da morte precoce, Billie Holiday fez performances cantando que são consideradas as melhores de toda a história do jazz.

Jornal Alumiar

O jornal Alumiar é uma boa luz sobre Ribeirão. Com a poetisa Mariza Helena Ruiz como redatora o jornal traz todos os meses informações culturais, sobre saúde e terapias alternativas. Vale a pena ler.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Uma Mensagem da Disney


Os desenhos Disney quase todo mundo conhece. Essa mensagem acredito que poucos.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Pedro II, Pingüim I

Durante o dia, o centro é um mafuá de pombos. Não me refiro às aves e seus dejetos, mas à agitação que faz de meu labirinto uma roda gigante. Aliás, se pombo fosse, cuidaria de freqüentar o local à noite, quando o centro ganha os ares europeus pelos quais nossos barões tanto investiram. Sem a sanha dos passantes e ambulantes, a praça abdica do povo para dar lugar ao sonho de uma Paris tropical, com todas as diferenças que a analogia possa suscitar.
Particularmente aos sábados, nos diletos dias de sinfônica, tenho naquele espaço o que esta cidade produz de melhor para meu gosto e sensibilidade: o concerto no Pedro II. Testemunhei o teatrão ser chamuscado, acompanhei a novela de sua reconstrução e, por isso, julgo que tenho hoje o direito de usufruí-lo. Portanto, evite as poltronas um e três da fileira C na platéia: elas têm donos virtuais (sim, a patroa me acompanha na empreita) e é de onde vamos ouvir as apresentações.
Caipira de Franca, foi ali que estreei meu primeiro concerto, com susto pela abertura de O Guarani, que costuma surpreender os desavisados com seus pratos e tímpanos. Foi ali também que conheci muita gente boa, como Schumann, Tchaikovsky e Guerra Peixe. E, por conclusão, descobri também que o mundo ainda tem jeito. Tudo isso por módicos dez reais, quando muito. Dez reais pela qualidade de uma diversão que não há dinheiro que pague.
Melhor! Sobra mais para, ao final do espetáculo, correr menos do que alguns metros para garantir uma mesa no Pingüim. Com sorte e tempo bom, ficamos no mezanino de fora, com total visão dos garçons, da praça e da galera da orquestra. Estes últimos (realmente o são, porque chegam sempre depois) trazem suas caixas imensas, seus paramentos desconstruídos e aquelas caras de santos, como se não houvessem feito uma arte daquelas.
À mesa, temos ainda companhia. Rachmaninoff, Mozart e Bach continuam a tagarelar suas notas. Após o terceiro chope, gelado e necessário, porém não derradeiro, proponho um brinde à vida, ao prazer e à música. E metido a besta como um jacu que se supõe no Deux Magots, aproveito o tilintar das tulipas para arriscar um palpite:
- Escuta! Os copos soam em si bemol, como o zumbido das cigarras!
Ainda bem que nessa hora os pombos estão dormindo.
Texto de Hamilton de Andrade Lemos publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

terça-feira, 14 de julho de 2009

As Grandes Musas do Cinema Mundial



Recebi hoje da minha amiga Silvia, que é super antenada e acompanha tudo que está rolando, esse curta que homenageia, de maneira belíssima, essas mulheres maravilhosas que fazem tanto sucesso.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Guimarães Rosa

domingo, 12 de julho de 2009

Uma Homenagem Universal

Só numa época como esta em que estamos vivendo para acontecer uma homenagem tão criativa. São os fãs do mundo inteiro se manifestando publicamente. Vale a pena ver!
http://www.eternalmoonwalk.com/

sábado, 11 de julho de 2009

Clarice Lispector

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Costa Rica é o Lugar Mais Feliz e Verde do Mundo

Costa Rica, um país com menos de 5 milhões de habitantes, ensanduichado entre o Panamá e a Nicarágua, ficou no topo do ranking global de combinação de vida longa e feliz com limitada degradação ambiental. O país mistura um belo interior, uma grande diversidade de espécies e há muito tempo se livrou de seu exército.
A fusão de seus ministérios da energia e meio ambiente reverteu o desmatamento e ajudou o país a produzir 99% de sua energia a partir de fontes renováveis. Ela também apresentou altas notas, em relação a outros países em desenvolvimento, nas pesquisas sobre pobreza, liberdade de imprensa e democracia.
O Índice Planeta Feliz ("Por que uma boa vida não precisa custar o planeta?") publicado na sexta-feira pela New Economics Foundation, com sede no Reino Unido, combina medições de expectativa de vida, felicidade e pegada ecológica para avaliar a sustentabilidade do crescimento em 143 países. O fato de os 10 mais da lista dos países "mais verdes e mais felizes" ser dominado pela América Latina pode gerar alguma desconfiança, já que a região é mais conhecida na imaginação ocidental por suas favelas, desigualdade e golpes de Estado. O Zimbábue ficou em último lugar, juntamente com uma dúzia de outros países do sul, leste e centro da África.
Mas os latino-americanos marcam muitos pontos, sugere o relatório, devido a aspirações não-materiais e forte capital social entre amigos e parentes. O desempenho ruim do mundo desenvolvido também pode levar alguns ocidentais a duvidar do valor do relatório. Entre os países ricos, o mais bem colocado é a Holanda - mas apenas em 43º lugar.
O Reino Unido fica na metade inferior do ranking - em 74º, atrás da Alemanha, Itália e França, mas à frente do Japão e da Irlanda. Os Estados Unidos se saem particularmente mal, em 114º lugar. Os países ocidentais apresentam longa expectativa de vida e as pessoas são razoavelmente felizes, mas os países sofrem no ranking devido à sua fraqueza ecológica, refletindo o nível elevado de consumo. O desafio para o Ocidente, diz o relatório, não é continuar elevando a renda, mas buscar vidas mais significativas e laços sociais mais fortes. Essa pode ser uma meta distante a curto prazo, mas o índice está sendo divulgado em um momento em que os autores de políticas ambientais estão explorando medições mais amplas de progresso em vez de um desejo de apenas promover o crescimento.
A "Comissão para Medição do Desempenho Econômico e Progresso Social" do presidente da França, Nicolas Sarkozy, deverá apresentar seu relatório em breve. Os críticos dessas medições e índices dizem que são baseados em cálculos e dados arbitrários, mas a maioria aprecia sua contribuição para o debate das políticas.
"O Índice Planeta Feliz é uma das várias tentativas de 'ir além do PIB' e chamar atenção para aspectos importantes de nossa vida", disse Enrico Giovannini, estatístico chefe da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde). Mas, ele acrescentou, "é impossível capturar em um único indicador a complexidade de nossa sociedade".
Texto de Simon Briscoe / Londres (Reino Unido) publicado no Financial Times

Tradução: George El Khouri Andolfato

Começa Hoje o Anima Mundi 2009

Começa hoje no Rio de Janeiro (10 a 19 de julho) a 17ª edição do Festival Internacional de Animação do Brasil, o popular Anima Mundi 2009. Como todos os anos, os principais centros culturais da cidade exibirão centenas de curtas e longas metragens de todos os gêneros de animação. O evento acontece em locais como CCBB, Centro Cultural dos Correios, Cine Odeon, Casa França-Brasil, Estação Botafogo, Praça Animada e Oi futuro.
Nos dias 22 a 26 de julho o Festival transfere-se para São Paulo.
http://www.animamundi.com.br/fest_home.asp

Hoje é o Dia da Pizza


Hoje, dia 10 de julho, é comemorado o dia da pizza no Estado de São Paulo. O dia foi instituído em 1985 quando aconteceu um grande concurso realizado na capital do estado. Na época, 100 pizzarias aderiram ao projeto dando descontos promocionais. Hoje, São Paulo tem quase 6 mil pizzarias.
Para completar as comemorações, a Associação das Pizzarias Unidas do Estado de São Paulo, promete fazer a maior pizza do Brasil ao ar livre, na rua Catarina Braida, no bairro da Mooca, durante o Sampa Pizza.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Há mais luz por aqui

Alguém viu Nasrudin procurando alguma coisa no chão.
"O que é que você perdeu, Mullá?", perguntou-lhe:
– "Minha chave", respondeu o Mullá.
Então, os dois se ajoelharam para procurá-la. Um pouco depois, o sujeito perguntou:
– "Onde foi exatamente que você perdeu esta chave?"
"Na minha casa."
"Então por que você está procurando por aqui?"
"Porque aqui tem mais luz."

Uma Mensagem Sempre Atual



Este comercial indiano traz uma mensagem das mais batidas em qualquer lugar do mundo – a união faz a força. A diferença é que a mensagem foi renovada com imagens muito bonitas, editadas num "time" perfeito com uma música envolvente e o mote da união é uma criança sonhando.

terça-feira, 7 de julho de 2009

O Poder do Sonho

Rose Monteiro de NY

Rose é uma amiga de muitos e muitos anos. Há alguns bons anos ela reside nos EUA, trabalha numa companhia de aviação e vive voando por este mundão de meu Deus. Nós nos falamos por e-mail, msn e, às vezes, nos encontramos.
Outro dia, motivada pelos textos sobre Ribeirão que ando colocando no blog, ela enviou-me este texto falando da sua chegada em Ribeirão.
Obrigado.

A Estudante
A chegada na rodoviária de Ribeirão Preto foi histórica para mim. Depois de nove horas de viagem naquele ônibus da Viação Andorinha…eu sim me senti um pássaro libertado da gaiola, prontinha para voar. Eu tinha 17 anos…e para mim isso era o que era a cidade grande! Ribeirão Preto, 1973!
A capital do Café se preparava para receber a rainha da cocada, eu!
Bem-vinda à Unaerp! Puxa, soava como nome de escola importante… E assim eu abracei essa cidade, que mais do que poderia ser, foi pra mim um ícone de tempo, espaço e sonhos de menina.
Migrante de Presidente Prudente, cheguei para estudar.Cheia de sede, queria aprender jornalismo…
Agarrei o livro das Paginas Amarelas e. deitada no chão de um quarto de pensão na Visconde de Inhaúma, copiei todos os endereços que traziam no titulo “agencia de propaganda”, “propaganda”, “anúncios de propaganda”, “propaganda e jornalismo”, etc…etc… Acabei com um listão, que me deu o que fazer pela semana afora…
Bati de porta em porta…Era meu primeiro ano na Faculdade e queria trabalhar! Queria correr atrás do meu sonho na cidade grande, queria desafiar a dificuldade, ser alguém, queria saber de meu tamanho…queria isso, queria aquilo, queria e queria…
Com muitas portas gentilmente batidas na cara e um melhor senso de realidade, voltava para casa todo dia cabisbaixa, mas sem desanimar…Deixe estar!, pensava comigo. Amanhã começo tudo outra vez!
E não foi por acaso, que num desses dias belos, acabei reconhecida para um cargo de “estagiaria”! Era uma agência de propaganda de verdade, de nome GG Propaganda! Meu Deus! não é que me queriam?
Pense sobre a felicidade! Esse era o meu retrato…dia apos dia, depois de um expediente onde de tudo se fazia, desde arriscar escrever um texto, posar pra fotos de varejão, fazer café pro pessoal, jogar conversa fora, ser incluída numa reunião importante da Redação…Valia tudo!
Ribeirão era pura felicidade…voltava para a pensão caminhando pela Nove de Julho, cantarolando, céu sempre azul, roseado nos finais de tarde…o frescor das arvores, o comecinho da noite e sempre a promessa de um futuro…de uma novidade… de um novo amigo…aquilo mesmo que só quem vem de fora, de mais longe, de cidade menor, pode deliciosamente experimentar...

O Sino da Matriz

No centro da cidade tem o sino –
O sino da matriz,
Badalando dia e noite,
Badalando alto e forte;
Anunciando aos fiéis e infiéis
Que o tempo esta passando
E não volta nunca mais.
Texto de Bia Nogueira publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

Numa esquina do centro

Parado, numa esquina do centro, esperando o semáforo me autorizar a travessia da avenida, não percebi que entre a terra e o céu pairava sobre nós a verde ramagem de uma esplêndida sibipiruna. Sob meus pés, depois notei com espanto, a grossa e macia camada dos dejetos noturnos daquelas famílias aladas que habitam os andares mais altos das árvores e que não eram anjos, não, mas nossas queridas “margosas”, ou pombas, como querem os mais exigentes de exatidão.
Não me dirigia a nenhum encontro protocolar, tampouco a qualquer tipo de reunião formal, com pessoas gradas ou graves. Meu destino, naquele momento e por sorte minha, era o estacionamento, onde deixara o carro duas horas antes.
Os mais velhos continuam afirmando que do céu só coisa boa pode cair: a chuva benfazeja, o maná que alimenta, ou penas de anjos, que se coçam distraidamente sentados nas nuvens. Tenho o maior respeito pelos mais velhos, mas desde hoje cedo me julgo no direito de não lhes dar crédito nenhum. Nem tudo que vem do alto tem parentesco com o anjo Gabriel.
Foi o que vi assustado quando senti em meu peito, quase dentro do bolso da camisa, o pequeno baque quase surdo seguido de uma sensação de umidade na altura de meu mamilo esquerdo, bem do lado do coração.
Estive a ponto de repetir essas asnices que nos vêm à mente em ocasiões semelhantes: “Não dou sorte na vida”, “Só comigo, mesmo, estas coisas acontecem”, “Por que justo comigo, meu Deus do céu?”.
O semáforo me autorizou a passagem para o lado de lá, mas não saí do lugar, inteiramente paralisado por grave problema ecológico a fervilhar em minha cabeça. Olhava meio abestalhado para aquela pequena mancha quente, escura e úmida, como se estivesse diante das chagas de Cristo com a responsabilidade de cicatrizá-las. As orelhas de todas as autoridades civis, eclesiásticas e militares do município de Ribeirão Preto devem ter esquentado muitos graus acima do normal naquela hora. Moramos sem reclamar na cloaca das pombas?, perguntei-me indignado.
Com o passar das horas, e enquanto esperava o semáforo mudar de atitude (pois sentia-o muito hostil), tentei pensar com mais calma sobre as causas de tudo aquilo e acabei chegando a alguma reflexão ainda possível a respeito da ação humana como piolho do planeta. Aliviado de todo o rancor inicial, lembrei-me de que fomos nós quem primeiro invadimos o espaço delas; derrubamos suas árvores, botamos fogo em seus ninhos e roçamos suas capoeiras. Sua opção de sobrevivência foi invadir, por sua vez, nosso espaço.
Já era quase noite quando cheguei finalmente ao estacionamento. Vinha pelo caminho pensando nas muitas titicas que o homem tem de suportar como conseqüência de suas próprias ações. E foi assim que me lembrei de asiáticos, africanos, árabes e latino-americanos fazendo cocô, que nada tem de angélico (mas que bendito cocô!), na casa dos outros.
Benditas sois vós, pombas de minha cidade, que ainda podeis ensinar-nos muitas lições sobre a vida.

Texto de Menalton Braff publicado no Guia Centro de Ribeirão - Edição Março 07

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Rua dos Cataventos

A Flipinha aconteceu paralelamente à FLIP na rua dos Cataventos, homenagem ao poeta Mário Quintana. Mas, na verdade, a Flipinha acontece durante todo o ano em Paraty. Uma equipe da Associação Casa Azul , responsavel pela realização da Flipinha, desenvolveu um trabalho com 800 professores da rede municipal de ensino, com oficinas de poesia, ilustração e mediação de leitura. Neste ano material incluiu orientações de como trabalhar na sala de aula o homenageado da FLIP, Manuel Bandeira. A programação da Flipinha contou com autores como Carlos Heitor Cony, Marina Colasanti, Nilma Lacerda, Ruth Rocha, Roseana Murray entre outros.

O Turismo Predatório

Na sexta-feira, dia 3 de julho, durante a FLIP, as ruas de Paraty assistiram a uma manifestação popular dos representantes dos indígenas, quilombolas e caiçaras, que estão sendo ameaçados e forçados a mudar de seus locais por grupos de empresas imobiliárias que estão projetando resorts e marinas com o fechamento de 3 praias.
Chico Buarque, no final de sua mesa de debate com Milton Hatoum, manifestou-se apoiando a reivindicação dos moradores da terra. Foi muito bom ouvir a sua palavra, porque não podemos mais permitir que o poder econômico continue destruindo nossa beleza natural e ignorando o ser humano nativo e sua história.

Uma Festa Universal

A cidade de Paraty é um dos locais mais charmosos deste nosso Brasil. As casas coloniais, as pedras que calçam suas ruas, os bares, restaurantes, cafés, lojas junto ao mar com seus barcos, formam uma paisagem única e muito bonita.
Durante os dias da FLIP - Feira Literária Internacional de Paraty, de 01 a 05 de julho - além de toda beleza natural - pode-se assistir a palestras e debates com intelectuais como Gay Talese, António Lobo Antunes, Chico Buarque, Minton Hatoum, Catherine Millet, Maria Rita Kehl, que estavam entre os participantes desse ano. É um belo encontro entre escritores e leitores.