sábado, 22 de maio de 2010

Clarice Lispector

Pelas plantas dos pés
subia um estremecimento 

de medo,

o sussurro de que a terra 
poderia aprofundar-se.
E de dentro erguiam-se 
certas borboletas batendo
as asas por todo o corpo.

Uma Planta Doida

"Já escrevi sobre uma surpresa que tive,
faz muitos anos,
numa manhã de frio intenso,
vento forte e céu enfarruscado,
que anunciavam que haveria neve pela tarde.
As árvores sabiam disso e já estavam todas sem folha.
Foi então que, caminhando pelo jardim que à tarde 

estaria todo branco, vi uma planta doida.
Ela não ligava para a nevasca da tarde: 
um botão de flor preparava-se para abrir."
Rubem Alves - Quarto de Badulaques LXXXI  
Correio Popular - 27/11/05